Bossa é um curta-metragem, de 2017, roteirizado e dirigido por Renata Rezende, graduada em Tecnologia em Produção Audiovisual da PUCRS, onde atuou nas áreas de direção de fotografia, arte, produção e atores. Além disso, Renata trabalhou como cinegrafista em eventos e como produtora audiovisual na ONG “Inspira”, durante o tempo em que morou em Lima, Peru. Também foi diretora do curta documental “Não Estou Só”. Bossa nasceu como seu trabalho de conclusão de curso.
Sinopse: Bossa é experiência. Em um dia qualquer, um grupo de pessoas é atingido por uma vontade instintiva de fugir. Ian, Camila, Marília e Joaquim nos levam a conhecer um pouco mais deles mesmos. Através de seus pensamentos e de suas histórias, acompanhamos o desenvolver daquilo que é mais intrínseco ao ser humano: o ato de questionar. Bossa é sobre pessoas.
A equipe do blog Ré Menor teve a honra de assistir ao curta e de entrevistar a Renata, para saber mais sobre o Bossa e sobre suas experiências enquanto diretora. Confira:
Qual foi a sua principal inspiração para criar Bossa?
O Bossa surgiu a partir de dois eventos da minha vida: um grande e novo interesse em filmes-ensaio, segmento cinematográfico que me apaixonei logo que conheci; e uma ideia que tive, despretensiosamente, de abordar uma narrativa que evidenciasse o lado instintivo do ser humano, hoje abafado por uma sociedade que nos coloca em uma posição de total controle racional. No meio de todos esses pensamentos e referências, concebi o filme, ainda muito abstrato. Ao longo do processo de produção, o caminho que a narrativa seguiria foi se esclarecendo para mim.
Quais são seus filmes inspiração para criar a identidade visual do curta?
Cada núcleo de criação do Bossa (direção, fotografia, arte, etc) construiu suas próprias referências, o que foi muito interessante. Mas descobri o cinema que me encantava quando assisti, pela primeira vez, o documentário “Sans Soleil”, do francês Chris Marker. Esse filme foi e continua sendo a principal inspiração do meu trabalho. Quanto à cores, enquadramentos e granulações, a fotografia dos filmes do diretor Terrence Malick foi bastante estudada pela nossa equipe. Muitas pessoas relacionam o Bossa com “Árvore da Vida”, algo que eu não esperava, mas que acaba sendo resultado do nosso conjunto de referências.
Depois de nos fazer refletir sobre nossas próprias questões, o que você acredita que ainda falta questionar na sociedade atual?
Cinema é política. O questionar é ato político, porém atualmente é reprimido e censurado de maneiras novas, mais inteligentes, que às vezes não conseguimos enxergar. No Brasil nos falta consciência de que estamos resistindo. Abafada pelas grandes mídias, políticas públicas, falta de ensino e excesso de violência, a consciência do nosso povo se mantém tímida, calada, enquanto outros comandam o país sem nenhuma responsabilidade. O resultado está na luta diária da classe artística pela liberdade de produzir e exibir.
Qual foi o ponto mais marcante da criação do Bossa?
O set de filmagem, com certeza. Ali construímos visualmente aquilo que só existia em imaginário, com muito amor e profissionalismo. Tenho mais orgulho do processo de criação do que do próprio filme como resultado final.
Qual a parte mais mágica de poder interagir tão diretamente com os pensamentos do público?
O mais bonito é ver aquilo que, inicialmente, só existia pra ti construindo sentido no corpo de outros. E cada vez que alguém me diz que gostou do filme, que se emocionou, me sinto grata por ter essa oportunidade.
Você acredita que documentários, curtas e filmes de uma maneira geral devem ser agregados no nosso ensino das escolas? Fazer com que os alunos criem pensamentos próprios, se questionem e busquem mais respostas em vez de apenas aceitar o óbvio?
Com certeza! O cinema é uma ferramenta grandiosa de ensino, construção de senso critico e de sensibilidade. Teríamos uma sociedade melhor se as artes fossem usadas sem medo, oferecendo todo o seu potencial, principalmente na infância e adolescência.
Quando você percebeu que queria seguir essa carreira?
Era óbvio, mas demorei um pouco pra perceber. Filmes sempre tiveram um papel maior na minha vida do que na da maioria das pessoas ao meu redor. Aos 16 anos, vivi uma fase em que me envolvi muito com música. A partir dela, comecei a pensar em videoclipes e me interessar pela produção audiovisual. Aí não teve mais volta.
Houve algum momento difícil nessa caminhada?
Não posso dizer que passei por dificuldades, pois sempre fui muito privilegiada. Tive acesso ao ensino superior, estudei o que eu queria, com o apoio da minha família. O momento mais complicado foi quando entrei no mercado de trabalho e percebi a dificuldade que os realizadores enfrentam pra viabilizar suas obras. A dependência do cinema brasileiro em políticas públicas e como elas são facilmente descartadas pelos governantes. Quando essa ficha caiu, sofri um pouco. Mas resistimos.
Como foi a experiência de trabalhar em uma ONG no Peru? Qual o maior aprendizado que você teve por lá?
O tempo que morei e trabalhei no Peru foi decisivo na minha vida. Nesse período me encontrei como pessoa, como artista e estabeleci prioridades. A experiência na ONG com as crianças com câncer complementou todo esse processo. Me deu consciência do meu papel no mundo, na sociedade. Esperamos sempre que os outros façam algo pelas pessoas. Assumir essa responsabilidade como indivíduo é transformador. Guardo esse momento da minha trajetória com o maior carinho e orgulho. E até hoje cultivo os grandes amigos que fiz.
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