Azar Crônico

Despedida: carta aberta à expectativa do amor

29 de setembro de 2021

Oi! Essa é minha carta de despedida. O desfecho final do nosso “quase”. Do nosso “e se”. Me permito botar em texto público, por que o canto que separei para eternizar as milhares de mensagens, que nunca enviei, já não existe mais. Além disso, acredito que outros corações acorrentados a fantasmas, também estejam precisando de um sinal para a tal despedida. Pergunto-me se começo contando a minha visão de nós ou se simplesmente vou direto para o ponto final que resolvi dar. O que é melhor? A crise de ansiedade volta a atacar, só de eu lembrar de ontem. Então, vamos do começo.

Você, em grande parte do tempo, foi um cara incrível, solícito, mas nada muito além disso, convenhamos. Em 99,9% do tempo, eu era a responsável por todos os esforços. Mas, na minha visão errada do amor, eu precisaria fazer das tripas coração para ser retribuída. Segurar toda essa energia sozinha foi me cansando ao longo do tempo. Sendo assim, procurei respostas aonde podia. No tarot, nas entrelinhas, no silêncio do ghosting, nas entidades no terreiro de Umbanda que frequento. Eu tinha até medo de falar com elas sobre você, acredita? Por que eu tinha medo de receber a resposta de que era tudo ilusão da minha cabeça. Não era. Mas, também me disseram que você não decidiria, por que não é do seu perfil. Ora ora, que surpresa. Mais uma vez, Êrica e seus padrões de dar tudo de si por quem não vai escolher ficar.

“Onde não puderes amar, não te demores”

Frida Kahlo

Eu sei que habitei parte do seu coração, tanto quanto você habitou o meu. Mas, amor, amor mesmo, eu sei que não era. Sabe? O amor que admira, que cuida, que impulsiona. E só consegui perceber isso, quando me vi refletida nos olhos de amor de um outro alguém. Lembro que meu pai me olhava com muito amor e eu pensava: “Não posso aceitar menos do que isso”. Por que será que aceitei por tanto tempo? Meu pai me olhava com calmaria e compreensão, como quem desejava conhecer tudo de mim e nada do que eu fizesse fosse fazer ele me amar menos. E eu queria mais do que isso, queria o desejo e a admiração que só o amor romântico mais puro poderia me oferecer. Olha, sei que parece coisa de filme, mas eu encontrei. Entretanto, não foi em você.

Não tenho garantias de que essa pessoa vai ficar, mas isso não diminui o que ela me ensinou sobre o verdadeiro amor.

Passei meses me livrando de você em doses homeopáticas, por que era dolorido demais te cortar de uma vez. Comecei parando de te procurar. Depois apaguei seu número. E por fim, apaguei o registro dos textos que pretendia te enviar em algum momento. Passei anos da minha vida esperando um fantasma. O que me faz ter a certeza de que o não dito pode ser muito pior do que um fim definitivo. Por que foi o silêncio que permitiu que eu criasse as expectativas de uma volta. Você realmente achou que alguém que escreve tanto sobre amor, tenderia a cair para expectativas negativas? Muito bobo da sua parte pensar assim.

“Livrai-me, Senhor, de tudo que for vazio de amor.”

Caio Fernando Abreu

Ao contrário do que possa parecer, não há mágoa por você. Sou consciente o bastante para entender que você não desejou criar expectativa nenhuma. Você nunca abriu espaço para isso. E que, talvez, tua despedida tenha ocorrido anos atrás. Mas, fico um tanto magoada comigo, por ter segurado esse sentimento por tanto tempo. Só que eu sei que, por mais que tenha demorado, eu finalmente parei para olhar pra mim. E respeitar os meus processos. Por isso sei que essa mágoa pessoal não vai durar. Eu entenderei que precisava disso, para valorizar o que veio depois. E é isso que deixa meu coração tranquilo quanto a essa despedida.

Esses dias encontrei um texto que fiz pra você em julho e no rodapé tinha a anotação “Que a espiritualidade me liberte de todos os sentimentos que não são recíprocos, amém”. E ela realmente libertou. Não espero mais o teu retorno, você não cabe mais aqui. Hoje quero muito mais do que você estava disposto a oferecer. E muito mais do que eu sou capaz de te oferecer também. Querido, volto a dizer, essa é a minha despedida. Depois de tanto tempo, percebo que não preciso que você volte aqui para colocar um ponto final. Faço isso por conta própria. Solto a mão do fantasma da expectativa por que sou boa demais para seguir esperando. Siga em paz, espero ter deixado boas lembranças.

Com amoor,
Ê.

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