Cheguei em um ponto não muito legal da vida. O ponto de mudanças. Estou há um pouco mais de dois meses do meu aniversário de 22 anos, mas não sei se esse é exatamente o motivo. Idade não importa muito para essas coisas. Cheguei num ponto não muito legal da vida, em que eu percebi que nada mais está me agradando. Meu paladar mudou. Meu gosto musical mudou. A grande questão é: eu não sei mais do que gosto de comer ou ouvir. Minha cabeça mudou, drasticamente. Eu não sei mais um monte de coisas sobre mim. A hora de mudar chegou. Mas, e seu não quiser mudar? E se eu gostar do conforto de saber cada detalhe sobre mim?
Eu sei que a gente está constantemente mudando. Só que eu sempre sabia aonde estava e aonde queria chegar na próxima fase da vida. Eu sempre fui muito precoce. Comecei a ler aos 4 anos. Entrei na primeira série, sem fazer nenhuma daquelas coisas de jardim, aos 6. Encerrei o ensino médio e perdi meu pai aos 16. Meu primeiro estágio foi aos 17 e me formei aos 20. Eu sempre fui muito precoce e, muito provavelmente, more aí o problema. A hora de mudar chegou e eu não sei mais quem eu sou.
Qual é a primeira coisa que você faz quando se vê perdido? Eu mando mensagem para um dos meus amigos que pode me entender melhor na hora. Quase sempre é a Jul. Escrevi para ela. Socorro, eu não sei mais o que estou fazendo da minha vida. Tenho 21 anos, meu emprego não é o dos sonhos, como eu imaginei que seria assim que terminasse a faculdade. O meu intercâmbio só está sendo adiado, cada vez mais. Socorro, eu não sei mais o que eu estou fazendo.
Jul costuma saber exatamente quando eu estou como uma bomba, prestes a explodir e causar tanto estrago quanto a de Hiroshima. Quando é assim, ela liga. Por que tem medo de a mensagem não chegar a tempo. “Tá tudo bem, é assim mesmo”, disse ela. “Mas essa coisa de ser adulto é sempre difícil assim?”, ela não tinha como saber. Completou 22 anos no dia anterior e está tão perdida quanto eu. “Isso é tudo parte do processo”, respondeu como se fosse uma senhora experiente. Talvez a Jul seja um espirito velho vagando pela Terra por diversão. “Eu não sei mais do que eu gosto. Isso é estranho, achei que sempre fosse saber”, reclamei. “Você sabe que pode só pesquisar coisas novas, né? Testar coisas até descobrir do que gosta”. “Mas isso vai levar o maior tempão, Jul”, ela riu. Me conhece há tanto tempo que já sabe que eu gosto do imediato. Que eu sou ansiosa e quero as coisas na hora. Que gosto de ter controle sobre mim e meu futuro. “Vai ficar tudo bem”, repetiu por fim.
Ninguém pode ser escravo de sua identidade: quando surge uma possibilidade de mudança é preciso mudar.
Elliott Gould
E vai mesmo. Talvez eu leve seis meses, um ano ou cinco, para saber do que eu realmente gosto e quero para a minha vida. Talvez, em cinco anos eu tenha passado por mais uma crise dessas. Quem é que sabe afinal? A hora de mudar chegou e vai chegar para todo mundo. As vezes antes do que se espera, as vezes bem depois do que chamam de “a hora certa”. Mas vai chegar e vai ficar tudo bem. Só espero que, quando a hora chegar por aí, você tenha bons amigos que digam “Vai ficar tudo bem”.
Os textos da categoria Azar Crônico são contos, crônicas e desabafos.
Nem sempre são reais.
No Comments