Patrinando

Santana Lopez, minha amiga lésbica na adolescência

15 de julho de 2020

Hoje, tenho 25 anos e sou bissexual assumida. Meus pais me apoiam e sabem, amigos também. Vivo como bem entendo. Porém, fui uma adolescente enrustida, que vivia escondida no armário e não agia como queria. Isso tinha vários motivos: eu fazia parte de uma religião fundamentalista cristã e não entendia completamente minha bissexualidade. Uma das minhas primeiras referências lésbicas foi a personagem Santana Lopez, a líder de torcida latina de Glee, interpretada por Naya Rivera, que infelizmente, faleceu nesta semana por causa de um afogamento acidental no Lago Piru, na Califórnia. Então este texto será uma pequena homenagem e um relato de como foi minha relação com a personagem.

Sempre gostei das versões Glee das músicas famosas. E também de musicais, sejam filmes ou séries. Quando a série estreou em 2009, comecei a acompanhar por causa disso. Mas depois que entendi os dilemas dos personagens na série, entrei em conflito comigo mesma. Veja bem, naquela época, mesmo que seja relativamente recente, não havia representatividade LGBTQI+ em séries de TV que não servissem unicamente para alívio cômico ou disparar preconceitos. Eu não queria ser a sapatão esquisita. E nem Santana.

Eu não tive contato ou amizade com pessoas assumidamente LGBTQI+ durante minha adolescência. Na verdade, evitava conhecer por preconceito e medo. Via como gays, lésbicas, bissexuais e trans eram tratados e não queria passar por isso ou estar por perto e sofrer possíveis consequências. Santana foi como uma amiga distante e, ao mesmo tempo, próxima. Me possibilitou conhecer e sentir empatia por pessoas que nem eu. 

Como era Santana Lopez?

Por mais que Santana não fosse bissexual, e sim lésbica, todo o dilema dela me afetou. Às vezes evitava em assistir alguns episódios, quando eu sabia que seriam muito emotivos. Invejava ela e a Brittany. Por qual motivo eu não poderia viver aquilo? Aliás, eu realmente sentia aquilo? Fiquei anos em autonegação. Enquanto isso, Glee fazia história em exibir um beijo entre dois caras, ter um casamento entre duas mulheres na última temporada. Tudo isso mostrado de forma real e sincera. Para os adolescentes (e alguns adultos) enrustidos, Glee era como espelho da alma.

Santana não era “boazinha”. Vivia em conflito com a Rachel, personagem de Lea Michele. Não era submissa. Mesmo assim, tinha momentos de fragilidade. Às vezes, mantinha a pose de durona como forma de sobrevivência. Ser quem é ainda é muito perigoso. Ela sabia disso, principalmente vindo de uma família conservadora e religiosa. Eu também sabia e temia. 

Últimas considerações

Pode parecer estranho para quem está vivendo a adolescência agora, mas Naya Rivera ajudou muita gente a se aceitar e assumir quem é para a família e amigos. Ou simplesmente confortou com suas atuações e performances icônicas. Descanse em paz, Naya. Sua existência e talento ajudou muita gente. Inclusive eu.

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